industrial de pequeno porte (a indústria), um funcionário público, um político contumaz e um
bancário. O assunto era “hipertensão arterial e seus riscos”. Não deu outra: todos entendiam do assunto mais que o renomado jurado de Hipócrates. O pobre médico, entre pasmo e irritado com tantas asneiras que eram ditas com ares doutos pelos seus companheiros de charla, mal obteve espaço para dizer um “a”. E quando encontrou a brecha e falou algo da ciência que lhe era afeita, foi logo “desmentido” (sic) pelo fátuo comerciante que lhe disse: “- Já vi que disso você não entende nada” e logo mais adiante o industrial emendou: “- Li numa revista, na sala de espera do meu dentista, que não é nada disso...”. Não preciso dizer que a conversa terminou com todos discutindo um assunto do qual só um entendia e que foi literalmente proibido de falar. É sempre assim. Tenho participado de rodinhas, as mais incríveis, em que os assuntos são dogmaticamente colocados com a firmeza, segurança e tom diretamente proporcionais à ignorância dos participantes. Outro dia tive que ouvir calado um advogado discorrer sobre “antropologia dos primitivos” (sic) e dizer tantas bobagens quanto sua frenética boca era capaz de produzir. E o mais interessante é que essas pessoas ainda concluem as suas doutrinações com a frase: “Sei tudo isso porque leio muito. Leio quatro livros por semana...” O que tem de gente que lê quatro livros por semana em nossa terra, não é brincadeira! E é por tudo isso que as conversas e as reuniões sociais são tão chatas. Todo mundo fala, dogmática e emocionalmente, das coisas de que não entende e que, de fato, não tem nenhuma obrigação de entender. Quem entende do assunto desiste de falar, concorda “democraticamente” (sic) com a trupe ignara e o assunto acaba, murcha, e todos saem mais burros do que quando chegaram. E como seria bom, se pudéssemos ouvir o comerciante falar do seu comércio, o advogado de suas causas, o médico de sua ciência, o artista de sua arte, perguntando, discutindo, crescendo, aprendendo, fazendo ilações e buscando analogias. A maior virtude do homem é saber dizer “eu não sei” e “eu não entendi”, perguntar e querer saber. Inteligente é quem pergunta o que não sabe e não quem fala sem saber.
Pense nisso!
Fonte: Luiz Almeida Marins Filho, Ph.D.